quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Caçador de caça.

Estavam num barco. Pai e filho. O mais velho olhava fixamente para a vegetação pantanosa, enquanto o pequeno tentava inutilmente se livrar dos pernilongos. De repente, um crocodilo. A lança voou vigorosamente do barco, acertando o animal, que deixava um rastro de desespero e sangue rio adentro. Segurando firme na corda, os dois eram arrastados pela criatura para debaixo d´água. 

Veja filho, estamos entrando no reino dos crocodilos. Pacientes e ferozes. Tudo em cima é advertência para que nenhum homem se aproxime. O calor, a vegetação alta, os pernilongos, as cobras. Todas zelosas por nossas vidas, tentando nos advertir e poupar de destino pior: o estômago do rei dos répteis fluviais. 

Não tenho medo, quero de volta o meu sapato.

Seus olhos eram contaminados pelo sangue venenoso, repleto de sabores da carne de tudo que foi comido. E o cheiro. Cheiro de mamãe. Sim, ela também foi devorada. Num passeio, há muitos anos. O sapato do menino caiu, junto com o braço da mãe, que não voltou. Foram parar na barriga do crocodilo. Bandido, safado! Gritava o pai. Morra logo! Ou vamos contigo até o fim do mundo!

Para a sorte do mais velho, o fim do mundo era logo ali. Lá no fundo, encontraram algo mais assustador que o crocodilo, o braço dilacerado ou a mãe desfalecida nos braços da criança ensanguentada: um homem. o Domador de Crocodilos. Aquele que decidia qual ia à superfície trazer sua iguaria preferida: sapatos infantis. 

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