terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Na prova do Detran

Eu olhei nos olhos dela e encontrei amor. Um amor meio perdido, remendado, esquisito, mas era amor. Ela andava entre os demais sem pedir muito, apenas farejando aqui e ali, sentindo o peso da vento e a cor do sol. Seus pêlos estavam usados para além do ideal. Suas marcas de abandono jaziam vermelhas e vívidas no tom da pele. Algumas feridas, porém, permaneciam internas, invisíveis. Era uma cadela jovem, mas usada, cansada. Seu rabo era sem graça, sujo, mas ensaiava alegria ao avistar um farol distante de carinho emanado do meu olhar. Que vontade de agarrar aquele ser tão perfeito e sozinho! Apontei com os pés um pedaço de pão e carne jogado no chão, largado, como ela. Agradeceu com a fome em prontidão! Recobrou as energias e pôs-se a latir! Au au, grande amiga, au au namastê!

2 comentários:

  1. Até na prova do Detran você vê algo poético...
    Senti uma pontinha de Nelson Rodrigues em você.

    ResponderExcluir
  2. adorei seu texto e a forma de se expressar!parabens pelo blog!

    beijos,
    isabela

    http://nablogoesfera.blogspot.com

    ResponderExcluir

comunique-se