segunda-feira, 27 de abril de 2009

Belvedere

Escureceu na cidade de Belvedere e eu acendi o meu cachimbo. Dei umas tragadas bem violentas para afastar o tédio e me espreguicei na cadeira de balanço, bem no meio da varanda. Os gatos passavam, as crianças entravam em suas casas e umas luzes piscavam lá no céu. Eu sentia o gosto do tempo passar no bico de madeira do meu velho amigo, sempre com o melhor fumo.

Tudo bem, vou ser sincero com vocês, não era fumo de qualidade, mas assim o imaginava por pobreza na alma e esperança no paladar.

Um anel de fumaça no ar, uma história para contar.

Há dois mil anos eu estava em uma carruagem levando uns rapazes de uma cidade a outra. Eram 13, um vinha prozeando comigo.

- Meu pai tem grandes planos para você, meu filho.

- E que planos seriam esses, seu moço? - eu desconfiava um pouco daquele jeitão caipira, sabe. mas tinha um semblante tão radiante que queimava um fumo estranho na gente.

Daí ele me disse um monte de coisas que eu não fiz sentido algum e foi-se embora, no meio da viagem.

Hoje eu sinto saudade dele e daquele fumo estranho que queimava no meu peito. Ainda carrego um pouquinho comigo e tento saborear no bico do cachimbo mas não esquenta o bastante. Pena que o céu se esqueceu de cantar. Daria uma bela poesia.

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