domingo, 27 de julho de 2008

Sobre a juventude

A juventude é mesmo engraçada, irônica. Uma piada da natureza na nossa biografia. A gente ganha um pouco de razão e já acha que tem resposta pra tudo. Começa a brincar de desvendar as mentiras do mundo, as malícias quase perdoáveis dos adultos e a brindar a saudade da infância como um triunfo da evolução do espírito rebelde.

Tomem eu, por exemplo. Quando era jovem acreditava poder mudar o mundo (perdoem minha falta de originalidade). A idéia era fixa: podia impor meu plano ingênuo entre os homens através da persuasão, sem que eles percebessem; e assim mudaria o curso da bomba nuclear. Só não sabia que já explodira desde 45 e que eu mesmo já era uma aberração da humanidade. O veneno radioativo me acompanha desde os bagos de meu pai. Não ia prestar. Mesmo assim insisti.

A maturidade, com quem venho me familiarizando ultimamente (com certa precaução, claro), entendo ser um despertar lento e extremamente incômodo para um sonho materializado de algum imbecil ou um grupo deles. Esse sonho no qual, imaginem só, um bando de loucos chamam austeramente de realidade, é tão imprestável quanto o sol da manhã que agride as pálpebras pesadas que velam o tesouro de cada um, o ideal.

Todo mundo tem um ideal, ou pelo menos tinha antes de se tornarem coadjuvantes no sonho de outro imbecil (esse pode ser seu pai, mãe, tio, astro do rock, autor marxista, etc).

Um ideal é um lampejo de dignidade onde somos protagonistas. Nele somos Deus, e os homens, bonequinhos de corda. A premissa pra se viver sob um ideal seu é acreditar que todos são simples, não admitindo nada mais complicado, refinado e CERTO que nossas próprias justificativas.

Todo o resto do mundo é retardado e você, apenas você, tem a chama da sabedoria mas acaba se mijando na cama cada vez que alguém aparece com uma lanterna ou simplesmente diz já estar acostumado a se virar no escuro. E você com essa PORCARIA de luz está incomodando os olhos dos outros. Vira essa coisa pra lá, é assim que eles te tratam. E pronto. Você joga fora a única coisa verdadeiramente sua, fecha os olhos e diz que existem sentidos mais importantes (importantes não, prazerosos, talvez). Tatear no escuro vira uma brincadeira muito sacana e divertida. Acha legal esfregar o pau duro nos outros até que alguém também acha engraçado te chicotear com o falo.

Mas voltando aos bonequinhos de corda. Sei que não é das melhores metáforas, mas me falta a razão do álcool. Vou transcrever exatamente como primeiro concebi, pedra bruta de uma tarde de sexta-feira em terra caipira. “As atitudes das pessoas e coisas são unideterminadas e o sentido é tão objetivo que podemos até agarrá-lo, contemplá-lo, como pegar um boneco de corda, tirando ele de seu percurso para admirar e depois colocar de volta sem alterar o curso. Nos ideais acreditamos que as pessoas são assim. Cada ação corresponde a um só motivo, pulsão. Sem duplo sentido. Até a malícia ganha um ar ingênuo, pois é a malícia pela malícia, nada mais.”

Então eu prossigo, dizendo que acordar pro sonho de outro imbecil é, também, perceber que as coisas e pessoas não são tão simples assim. Continuando... “As motivações, são, logo, como o vírus da AIDS, sempre mutante, adaptável. Para manter seu curso implacável é necessária adaptação. Daí cresceu o medo de não mais conseguir apalpar, retirar por um só instante os homens de seu curso para admira-los em sua ingenuidade (ingenuidade que nada!). Queria eu dissecar, costurar e reintroduzir cada um sem alteração. Sem responsabilidade de suas condutas que me escapam o sentido”. Por hoje é só, estou perdendo o fio da meada.

Um comentário:

  1. Amadurecer é a coisa mais dolorida e cruel que existe. Perder a ingenuidade é algo perverso.

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