sexta-feira, 16 de maio de 2008

A Cronista - Parte 3

O ódio instalou-se em seu peito, sua alma transpirava cólera e a ponta dos dedos, veneno. Assim confessava, através da máscara de Ana, o que fizera (ou assim acreditara ter feito) na semana seguinte em retaliação silenciosa ao ocre perfume encontrado na gola do paletó de seu marido.

“Não espero absolver-me jamais, os pecados são impressões das dores infligidas e perdoar-me seria negar o passado. Este, porém, ainda mora em meus sonhos, minha cama, e não é graças a essa licença conjugal que devo lhe prestar submissão do ego. Não é digno da minha vaidosa humildade. Sou assim, amo-me na alegria e na tristeza, na indiferença e no orgulho. Sou minha puta e santa; inimiga e mãe. Também não mendigo piedade; farão melhor juízo jogando-a aos porcos; deixe que estes os pisoteiem e mastiguem vossas falsas morais...”

E assim continuou por parágrafos longos e intermináveis de pura libido do ego, até, finalmente, desvendar o velado acontecimento:

“... Dormi com três essa semana. Nada demais, podem pensar, se comparando às minhas aventuras pretéritas. Porém, não quando se trata da divina trindade. Sim, maculei novamente a santidade dos meus ideais; levei para a cama o pai, o filho e meu espírito...”

“... Primeiro com um amigo de infância o qual meu pai tinha como filho. De certo, nutria certa inveja, mas esta não desbotava a admiração que tinha pelo rapaz; poderia se passar por filho de meu pai sem maiores esforços; o temperamento, desejos e até os movimentos rudes eram perfeitamente análogos. Três trepadas, maravilhosas. Pedi pra me chamar de filha malvada; ele ficou sem entender, mas gostou dos meus gemidos nervosos (inspirados em minha mãe)...“

“... O segundo foi um amigo de minha filha que sempre me comia com os olhos; meu marido ficava sem saber o motivo real do sexo maravilhoso após as visitas do rapaz. Aquilo me excitava, de fato. Essa semana, porém, cometi um erro ao ultrapassar a fronteira do flerte e matei a libido ao levar o menino para a cama. Só ele gozou ... “

“... Por fim, me masturbei frente ao espelho. Tive nojo de mim...“

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