quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Os Albinos, o por quê.

Olá. Meu nome é Jorge. Eu sei que não poderia começar de modo mais medíocre. Mas era isso que minha vida era antes de me mudar pro Rio. Mas não se enganem, medíocre no lugar de onde venho significa muito acima dos padrões. Pelo menos isso me poupava do trabalho doméstico, da limpeza da fazenda, do cheiro de estrume matinal na sola da minha bota.

Sim, eu venho do interior. Minha família é dona de uma grande extensão de terra na maior parte improdutiva, como boa toda boa e comportada oligarquia interiorana ao modo antigo. Especulação imobiliária foi como meus ancestrais ergueram nossa decadente fortuna, gasta ao longo dos anos com extravagâncias dos filhos, sobrinhos e netos cada vez que passavam pelo que costumo chamar "ritual de passagem dos Albinos". Basicamente é isso que estou vivendo agora, ou fingindo viver só para meu nome não passar em branco na velha, ressecada e habitat de insetos e outras criaturas furtivas que é minha árvore genealógica.

Mas como eu disse antes, para desespero da minha família, eu sou um medíocre. Em termos da minha família isso é tão grave como uma doença terminal. Para mim, uma forma de escapar do destino cruel de uma tradição de golpes, incestos, estrume de cavalo e toda sorte de virtudes em nome da preservação da espécie em extinção mas nem menos ameaçadora ao meio ambiente humano que é a nossa geração, os Albinos.

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