quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

seres rastejantes

O banheiro é o templo de um homem. É lá onde ele descobre a si mesmo por dentro e se renova. É na privacidade desse cômodo tão singular que o homem excerce sua verdadeira liberdade, maximiza eternamente o ideal liberal. É livre para se masturbar, dançar na frente do espelho, amaldiçoar todos os inimigos e amá-los também, xingar e elogiar a si mesmo, pensar, chorar, se decidir, renascer e morrer. É uma zona de contato entre a civilização e a natureza, entre a produção arbitrária e egocêntrica do homem e as leis imbatíveis de da grande mãe. É um ambiente de convívio entre o homem e as pequenas criaturinhas também.

Eu não consigo ficar em paz quando vejo uma aranha atravessando o chão. Mesmo as mais simpáticas, com todo aquele gingado e jogo de pernas e piscadelas sensuais. As aranhas são as guardiãs do toalete, sempre lá, mesmo que você não as veja elas estão de olho em você e em todas as outras criaturinhas. Ela (aranha) fica na dela, tecendo sua teia à espera de um inseto desavisado que entra por engano pela pequena fresta da janela. Ele voa, voa, pousa, cheira a tampa da privada, se olha no espelho, sobe ao Sol, fica cego e foge do Gigante que adentra o aposento, procura um canto escuro embaixo da pia.... pimba! Almoço pra dona aranha; ela agradece ao homem, deve muito a ele, por isso fica na dela, só espiando.

A fauna é grande, desde as taciturnas baratas às famigeradas lacraias. Eu tenho um carinho especial pelas últimas. Costumam aparecer mais no fim do ano, perto do verão. Devem achar que o box do chuveiro é algum balneário, não sei. Trazem toda a família. Primeiro você vê os pequenos, solitários, pateticamente indefesos. Assim que você liga a ducha lá estão eles, correndo alegremente pelo azulejo ensaboado, balançando o rabinho e se divertindo como se não houvesse o amanhã... ou um dedão carnudo indo em sua direção, um verdadeiro arauto do apocalipse. Ela (a lacrainha) tenta se adaptar à superfície carnuda do objeto sideral, mas este acaba esmagando suas frágeis pernas, despedaçando suas articulações e desmembrando seu corpo esguio com gestos suaves e coordenados.

A coisa muda um pouco de figura quando aparece o primo parrudo. A situação realmente fica preta e alguns banhistas (humanos) não suportam a grotesquidade de uma lacraia bem alimentada e tri-atleta, contorcionista e mestre de obras. Seus nervos de aço simplesmente derretem como se estivessem pisando num caldeirão metalúrgico e dão saltos triplo carpados numa tentativa frustrada de salvar seus próprios pés da abominável monstruosidade sedenta por carne humana que rasteja pelo chão como uma criança melequenta atrás de doce no dia de Saint Cosmian and Damian.

Não pra mim. Após anos de submissão às situações de enorme estresse humano confinando num pequeno box rodeado de seres rastejantes e de milhares de pernas, desenvolvi uma carapaça de titânio na sola dos pés, o terror pras mais veteranas lacraias. Equipado com um sistema de rastreamento de calor, o sangue frio desses seres amantes da escuridão e água quente se mistura com o quente solo ensaboado. É o fim. o fim. O FIM. OOOOOO FIIIIIIIIM MISERÁVEIS RASTEJADORES DE PERNAS CABELUDAS. meu deus, eu os odeio.

3 comentários:

  1. AUSHUIAHSUIAHSUIAS demais! *_* também odeio (Y) MUhHAHHA

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  2. Quilópodas são tão bonitinhas... *-*
    Não as odeie!

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  3. Eu ainda não sei o que é uma lacraia. 8D Lagartixa? >__<
    Aaah... Mas, odeio aqueles bichos que vivem lá no banheiro. (:

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