sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Aço e Sangue

Os homens estavam alinhados esperando seu comandante. O medo em seus corações era abafado pelos gritos alucinados e pelo calor dos peitos ardentes numa guerra precipitada contra o anjo da morte. Suas pernas estavam pesadas como raízes tateando a terra em busca de uma identidade, de de convicção, de vida. As gélidas garras da morte sobrevoavam a poucos metros de seus pensamentos personificados nas negras aves, arautos da vitória e da derrota. Coletores de vidas.

O jovem soldado chorava em silêncio. Não por medo ou coragem, mas por não mais se reconhecer como homem. Sua família fora brutalmente assassinada, pedaços de familiares espalhados por toda a casa, irmãos, pais, tios e primos com suas desavenças e afetos foram embaralhados para jogo sádico da guerra. Ele ria enquanto e saboreava as lágrimas salgadas. A alma sensata deixando o corpo antes que fosse tarde demais?

O velho comandante carregava sua pesada armadura, reluzente mesmo tendo sido forjada há eras. Herança de família, uma nobre linhagem de guerreiros do reino. E se perguntava se seus antepassados não se sentiam incomodados com o calor daquele aço, se jamais se acorvadaram frente a bravura de seus homens ou se eram todos loucos. Sentia que estava perdendo a razão, desde que saira de seus aposentos só escutava aquelas dezenas de vozes em sua cabeça, orientando-lhe para o campo de batalha, para o fio gelado da espada, para o mar de sangue e para a glória.

Duas horas de aço e carne enquanto a guerra era decidida longe dali. O Rei morrera engasgado com uma galinha.

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