segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Ócio

Ontem à noite eu vi um gato não muito simpático na janela. Ele me encarava com aqueles grandes olhos vesgos e fiapos de vassoura saindo das bochechas. Parecia uma estátua de algum deus egípcio do mau gosto, o rei do tédio. E era ameaçador. Não se iludam, esse gato malicioso quando passa na sua porta não vai rosnar por entre suas pernas, mas vai te deixar muito perturbado tentando adivinhar o que ele quer. E isso pode te levar à loucura; como um gato pode ser tão estúpido? Pra você que tudo faz sentido, tudo tem uma razão de ser, o deus do tédio pode ser considerado como o grande e arrebatador DESTINO cagando nas suas calças enquanto fode teu cérebro pelo ouvido. A ternura do saber vem misturada com uma boa batida de cérebro despirocado.

E é assim mesmo. Lá estava o gato, danado, me atormentando. Achando que eu ia ceder (ao que?). Mas eu também sou bicho teimoso, retribui o olhar mongolóide e ficamos os dois nos vendo nos próprios olhos. E eu entendi qual era a do gato. Ele não estava ali, havia se perdido há muito tempo. Recuperou a memória e foi trabalhar. Me senti solitário, um gato abandonado. Fui miar em algum telhado e após noites de lua cheia, veio uma tempestade. Sem voz e com os miolos encharcados de Lua, procurei uma janela seca pra descansar o ócio. Tinha uma menina naquele quarto, e ela olhou pra mim.

Um comentário:

  1. bonito...

    mas gatos dificilmente nos encaram nos olhos...

    o motivo? eu nunca sei...

    mas gostei!! =)

    ResponderExcluir

comunique-se