quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Sei lá

Hoje em dia, sempre que discuto sobre soluções para os problemas urbanos e sociais como um todo acabo na velha discussão da impossibilidade de se estabelecer uma verdade absoluta. O relativismo, que hoje em dia virou senso comum, é uma arma poderosa contra qualquer poder estabelecido. O problema reside quando ele passa de um instrumento de contestação para um empecilho ao diálogo.
Ter o relativismo como fundamento da construção de qualquer conhecimento é, ao mesmo tempo, ser humilde e descrente em tudo. Humilde quando interpelado sobre a validade do conhecimento que se constrói: "Ah, eu penso assim mas é apenas meu ponto de vista.". Descrente quando um conhecimento que fere um princípio do interlocutor: "Ok, isso que você pensa é valido. Para você, não para mim. Não acredito que haja uma verdade sobre o assunto. São apenas pontos de vista."
Em conversas corriqueiras a utilização banalizada do relativismo pode não causar tantos danos assim. Mas a coisa muda de figura quando ele se faz presente em discussões políticas e mediações de conflitos entre grupos que TEM que estabelecer algum tipo de relação.
Como não há mais verdade absoluta, não há mais um Deus cujo plano divino poderíamos contar para caminhar sobre. Ao invés disso, trouxemos Deus para a Cultura. Ao acreditarmos ser Deus uma criação cultural, transformamos o homem em seu pai. Como o homem produz a cultura e Deus (ou a verdade absoluta) vem da cultura, Deus torna-se filho do homem.
Uma complicação importante dessa leitura do mundo é que não há, ontologicamente, a possibilidade de diálogo se cada homem não ceder para a produção de conhecimento do outro. Cada um com seu Deus, cada um com sua Verdade Incontestável e Inalienável. Na pior das hipóteses não há troca, mas formação de guetos, segregação. Cada um tentando preservar sua integridade, pois a experiência e interferência do outro é, a priori, arbitrária e dominadora.
Tudo isso parece muito abstrato e superficial (e de fato é), mas tem implicações empíricas importantíssimas. A política multicultural do Canadá, por exemplo, acaba por criar a necessidade dos grupos de estabelecerem limites cada vez mais rígidos de suas Culturas, suas Verdades, seus Deuses e transformam o território num baú de pólvora cujo qualquer contato entre as partes pode produzir faísca. Há sempre o risco de contaminação, de desrespeito. E ninguém está disposto a ser desrespeitado, de se contaminar; pois sua IDENTIDADE de grupo garante seus DIREITOS de grupo. É complicado. Vou trabalhar.

Um comentário:

  1. Quando o relativismo passa de um instrumento de contestação para um empecilho ao diálogo, ele se torna etnocentrismo e voltamos novamente "à estaca zero". Daí, o que podemos fazer? Trabalhar para que um diálogo volte a ser estabelecido entre os diferentes grupos, mesmo sabendo que poderemos enfrentar um "eterno retorno"... Como não há uma única verdade possível, também não há uma única solução, uma solução eterna.

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