terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Um dia no além

Acordou indisposto; sem forças nas pernas, braços ou cabeça. Não conseguia nem virar os míseros 30 graus habituais para ver as horas, num respeitoso reconhecimento pela pontualidade de seu relógio biológico. Sua cabeça parecia não lhe pertencer, sentia-se um intruso numa massa disforme e preguiçosa sobre a cama. Seu corpo estava em greve; rebelara-se, enfim, contra os caprichos e paixões do seu dono. Não era dono de si, não chegaria cedo no trabalho nem assistiria seu programa favorito de televisão no intervalo do almoço. Não nesse dia.

Cedeu, decidiu fechar os olhos para escutar e ver as demandas do corpo. Tudo era negro e silencioso; até que, aos poucos, uma imagem foi se formando lentamente na parte de dentro de suas pálpebras como uma projeção de cinema.

Eram estranhos, deram-lhe um grande esporro e levantou-se da cama. Puto consigo mesmo, reconhecia-se um verme inútil. Foi fazer algo de bom, comprou uma moto e foi visitar parentes distantes.

3 comentários:

  1. Por que não foi de ônibus? (ou de avião, já que tem dinheiro pra comprar uma moto). Motos poluem muito o ambiente e são veículos extremamente egoístas...

    Abraços!

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  2. Gustavo

    Porque ele tinha que fazer isso sozinho e não podia dar chance de um(a) parasita pedir carona e acabar atrapalhando tudo. Mas calma... isso foi só por um tempo.Uma hora ele vende a moto ou transforma ela em arte plástica

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