terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A Janela .2

A velha senhora estava em prantos, seus lençóis suados e cabelos enxarcados. Fazia tempos que não tinha sonhos com ele. Levantou-se cautelosamente e foi até a cozinha beber um copo d´água.

O estranho do pesadelo em questão tratava-se de um amor juvenil dos tempos áureos de sua vida, quando ainda era bela e cortejada por toda a sua cidade natal; um pequeno vilarejo no interior. A vida era regida pelos ciclos naturais e os papéis sociais eram bem definidos desde o berço. Aceitava com orgulho sua posição privilegiada na hierarquia local e não se interessava por aventuraras em outras preocupações que não as suas próprias. Era filha de um próspero comerciante que, no passado, fora comerciante de escravos. No entanto, suas duas filhas e um varão profetizavam um destino sórdido para a família; nenhum deles tinha aptidão para os negócios.

Após a morte do patriarca, a família começou sua decadência. A irmã mais nova, no entanto, não iria entregar os pontos tão facilmente, foi logo à procura de um noivo rico que pudesse sustentar seus caprichos. Notemos que, pela primeira vez em sua ignóbil vida, teve de fazer algum esforço útil. Porém, não a creditemos tão prontamente, pois é bem sabido a fama de nossa heroína e seria cabível imaginarmos a facilidade dessa empreitada tendo em vista sua boa reputação dentro do risível alto círculo social da pequena comunidade.

Infelizmente, naquela época, as falências e desinfortúnios naturais se alastravam como uma praga por todo o Estado; ceifando tanto os seres que tiravam algum lucro da agricultura quanto àqueles que parasitavam os lucros destes para sobrevivência. A família da ninfeta encontrava-se no segundo grupo, assim como a maioria de seus pretendentes, com a excessão do filho do coronel local, cuja temperamento agressivo não lhe agradava. Prefiria os homens delicados pois acreditava serem mais facilmente domesticados. Enfim, a escassez financeira foi a causa de sua peregrinação até a cidade, onde sonhava encontrar sua presa fácil e paz eterna.


Continua.

Um comentário:

  1. ai ai... isso aqui parece um filme do Lynch!!!
    Gostei muito dessa parte, foi a melhor até agora, mas a minha curiosidade quanto ao destino infeliz de Pedro (que nome escolhestes, hein? hehehe) até agora não foi solucionada... De todo modo foi muito bom saber um pouco mais sobre a história dessa simpática velhinha (cujo o nome eu também não sei, ou se sei, já esqueci!)

    Abraços e
    muita inspiração,

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